Poeminhas

Linha de chegada

Esta é a última poesia que escrevo.

Por que perder tempo com isso?

Poesia é só uma espécie tosca de filosofia.
Menos chata, menos profunda.

Quando alcança a profundidade desejada
vira uma coisa maçante. Ridícula.

Já leu o Zaratustra em versos?

Que-Grande-Porcaria?

Poesia profunda é muito, muito chata.
Como toda coisa genial.

Por isso pra ser bom poeta
você tem que ser meio burro:
ou então parecer um imbecil.

Não um imbecil completo, é lógico,
um sonhador idiota está de ótimo tamanho.

Tudo mais é uma questão de tato
ou não.

Ser frio o suficiente pra parecer idiota
e ser pedante por isso.

Poesia tem que ser meio rasa
senão perde a beleza.

Então dane-se!

Pra que poesia? Uma garrafa de tinto
de três reais faz coisa bem melhor
na cabeça.

Da gente.

Essa poesia que não é canção.

Pois bem, uma mesa enferrujada,
um papel em branco, uma ideia
martelando: está cometida.

Pra que perder tempo com isso
quando se pode gastar uns centavos
e ter uma mulher do seu lado
ou debaixo de você?

Ou uma cerveja que pode te dizer milhões
de coisas a mais que uma simples poesia

extirpada?

Esta é a última que escrevo.

Veja só o monte de baboseiras
que ela está se tornando.

Veja quanta hipocrisia
deste cara que não sabe
pensar noutra coisa
senão numa porra de poesia
quando está sozinho.

Que é quando se escreve melhor.

Não, foda-se, está é a última,
a saideira.

A poesia é uma praga!
Um mal de solitários perdidos
num fluxo besta de pensamentos
foscos.

(imagens, imagens, metáforas)

(imagética, camaradas, imagética)

Coisa humana demais,
expressão humana demais
pra que seja levada à sério.

Como este poema
impreciso.

Firme como a certeza
de que é o último

quando acabar-se tudo
neste ponto final

aqui
.

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